* notas:
- O FARANI CINCO TRÊS surgiu através da oficina orientada pelo poeta Chacal, na Biblioteca de Botafogo. Parceria da SMC RJ. Iniciada em Abril de 2011.
- O Farani Cinco Tres participa do projeto FORA DE ÁREA, em parceria com a rede NORTE COMUM, e realização do SESC Rio! As oficinas de jogos poéticos do FORA DE ÁREA acontecem todas as quintas feiras, às 18h30. Na biblioteca do SESC TIJUCA. É de graça, é só chegar. Recomeça em abril de 2013. É só chegar!
- O próximo CEP20000 será na última semana do mês. No Espaço Sérgio Porto [Rua Humaitá, 163 / fundos – 2535 3846]. Sob a coordenação do poeta Chacal, poesia, música, cinema e muito mais. Só vendo, indo, vivendo. O FARANI CINCO TRES também está por lá!

- FARANIS livros!
#JOSE HENRIQUE CALAZANS relançou seu livro, em versão ampliada - com poemas novos: QUEM VAI LER ESSA MERDA? no Sarará, o sarau, que acontece no Spa Cultural PAz, no Catete, dia 12 de outubro - das crianças!
#ALICE SOUTO lançou seu fanzine POESIA AUTO-SUSTENTÁVEL, em versão bilingue, na FLIP2012 em Paraty.
#
FELIZPE FRUTOSE lançou seu FRUTA AFRODISIACA (amostra grátis) no dia 23 de março de 2012! lançamento virtual já com mais de 500 visualizações! PARABÉNS, FELIZPE! Para ler, CLIQue aQui!
#SILVIA CASTRO lançou o seu PRIMEIRO, em dezembro de 2011, também online. Quer ler? CliQue AQui!
#CESAR GOMES
lançou também o seu Livro 22, em novembro de 2011, que pode ser lido AQui!
#ANA SCHLIMOVICH também lançou o seu ANAFENIX, em dezembro de 2011! poemas e fotos de las anas: AqUi!


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

a procura da poesia

"Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo."

e
não é o sonho essa coisa que adentra
feito um circo transcendental misturando
fogo, malabares, bailarinos e o palhaço
que ri da plateia e

quando se vive na fila de banco
não é o homem contando as notas
ambiciosas que mal cabem na palma da mão
sobre a tela com notícias de minas

e não é minas a terra de ferro vermelha
de águas e vales infinitos que tanto
fundem à vista as pistas de onde está

a chave, chave que abre qualquer cadeado,
chave-mestra, chave-ideia, chave-achada

não é essa coisa férrea
que cobre o texto como cobre o cobre o homem
firula a cintura e reboliça as entranhas
feito um sono longo que nem se lembra
de tanto sonho louco e mais e mais e mais

e
não é o sonho essa coisa que adentra?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Esperança


Estrela na estrada traz pro caminho 
Presente que reluz
Pra aquecer o que é vivo
Fio dourado do sol, feito caminho de luz
É pra todo menino
Presente pra batucar, pra tecer destino

Tesouro 
Encanto que se encontra
É de dentro pra dentro
Feito Esperança que entra pela janela
E a gente nem sabe o que é...



Para o Menino...

Todo dezembro nasce o menino
E no Brasil todo dia é dezembro
Os meninos vão se parindo por aí
E é pra eles toda a sorte de presentes
Rapadura pra adoçar a vida
Farinha pra enganar a fome
Psicotrópicos pra embriagar o olhar
Neste natal de todo dia
Seguem os meninos em holocausto
Ao encontro de um destino na Cruz
Enquanto isso, nós do mesmo planeta, comemoramos, 
Festejamos a chegada do amor vivo na terra dos homens
Cantado: “Quando. seu moço, nasceu meu rebento, não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome e eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
Fui assim levando, ele a me levar...
Na sua meninice um dia ele me disse que chegava lá
Olha aí, olha aí... É o meu guri...”


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

BOAS FESTAS

Na tal noite
pequenino
mamei no peito
esparramado
fui ninado

Na tal noite
brincamos
de papai-mamãe

Noel

Fui menino
ganhando presente
e tua estrela-umbigo

belém, belém

brilhava as pistas do caminho

domingo, 27 de novembro de 2011

Pode ser de dentro pra fora
ou de fora pra dentro
Poesia é movimento
Cambalhota, salto a distância, passo a frente

Sua procura já é um achado
Luz no fim do túnel, pôr-do-sol no fim do dia
Feita em sonho ou sala de espera de dentista
Passatempo, caça-palavras, quebra-cabeça

Sobre céus e infernos
É queda-de-braço, luta livre, parto sem anestesia
Tudo o que falta e o que transborda é poesia

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A antipoeta

Há dias em que
a arte do poeta
me parece uma
punheta

realizamos
nossos desejos
com a ponta da
caneta

em vez de escrever
giraria a maçaneta
correria até sua boca
e ficaria queta

jamais me visita
a tal da inspiração
meu caso
é simples

a poesia
vem
quando você
não

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

VOU TE VER ÀS 11:11 DO 11 DO 2011

Zonzos nas onzes - Às 11:11 do 11 de 11 do 2011

Luis Turiba

Como diz o poeta às vésperas dos seus 111:
Não faça versos sobre datas, fatos,
acontecimentos pontuais do cotidiano.
Não seja leviano, fulano ou sicrano,
não tampe o sol com quentes panos.
O melhor é não fazê-lo
Será um desmantelo
Um furdúncio de atropelos
Sê-los ou não sê-los?
This is a satisfaction.

Mas às 11&11 do onze de onze do 2000&onze
Vou estar com você no trem das onze
Queimar seu bronze, jogar nas onze
Pelas onze badaladas da lua cheia
Pelas onze rodadas de chopp e meia
Onze espasmos onze orgasmos
Onze abraços onze frangalhos
Onze beijos apaixonados
Onze chupões de afogados
Onze casais aloprados

Por tanto, às 11&11 do 11 de 11 do 2000&11
vejo de perto você bem longe
não há versos sobre datas cotidianas
mas a equação está posta na roleta
façam suas apostas zazz borboletas
você é mais que dez e me consome
é o onze que pintou no meu gramado
lado a lado, alma gêmea seriada
sou seu 1 de dois, não zombe: ame
você é meu transe, noves fora, onze

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Completamente endrummoniada

Ando endrummoniada
Ando esquecida das coisas
Ando inventada
Ando vaga

Olho tudo na distância
Nada me toca
Nada me alcança

Tu já não faz parte
Eu que parto
Tu já es pretérito
Eu nada sinto

Ando desacordada
Ando levemente encorajada
Ando de novo
Ando completamente endrummoniada

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

AONDE ANDA A ONG?

Parafraseando Bandeira, em homenagem a faxina de Dilma

a Ong anda
aonde anda

a Ong?

A Ong ainda

ainda Ong

ainda anda

aonde?

a onde?

a Ong a Ong

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Drummond erótico ganha releitura no RJ



Performance poética chamada “Baixo Drummond” será apresentada no CEP 20000

A partir do próximo mês, o Brasil começa a celebrar o centenário de Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902.
Entre tantas homenagens, o grupo carioca de poesia e performance “FaraniCincoTrês”, criado pelo poeta Chacal, optou por uma ousada releitura do livro póstumo “Amor Natural”. São poemas eróticos, voltados para o amor carnal e a celebração do corpo da mulher amada.
O recital que recebe o nome de “Baixo Drummond” estréia no próximo dia 26, quarta-feira, no CEP 20.000, Teatro Sérgio Porto, no Humaitá, às 21 horas. O grupo “Farani” apresentará poemas autorais baseados na obra drummondiana. Mas pelo menos dois poemas de CDA serão lidos na perfomance: “Cabaré Mineiro”, por Chacal; e “A bunda, que engraçada”, por Luis Turiba.

Boca

Boca: nunca beijarei.
Boca de outro, que ris de mim,
No milímetro que nos separa,
... Cabem todos os abismos.
[Drummond]


Boca: Batom
Dentes
Brancos lábios
Vermelhas portas
de entrada
Para um Outro
Universo
__Pessoa
_____Lugar
_______Acesso

Boca: que fala mas não ouço
Só vejo, intuo a língua
a brincar de esconde
No abre e fecha
Da umidade rosa
[vejo-te rosa,
dizem vermelha, mas és rosa]
Que aguça a gula
Paladar e tato
Desejo do gosto
Do gozo

Beijo: Como será?
Lento, apressado
Intrometido, abusado?
Curioso, o medo o retém.
Impotente, em regime e dieta,
Sem raiva.
Guarda em sonho
O beijo que não beijei.
Beijarei?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Amor natural

Poucas coisas nesse mundo superam a delícia de, ainda dormindo,
sentir o membro do homem amado já acordado.
Sem abrir os olhos, entregar o corpo sonolento
ao comando de seu desejo badalando as 12 horas.
Então, o que era botão abre-se em flor.
E deste sonho de vai-e-vem sonâmbulo,
desperto num gozo doce de bom dia.

domingo, 23 de outubro de 2011

Exorcismo

Vaza capeta!
Chega desses toques macabros
que me quebram as pernas
os dois braços, juntos
e me deitam

Tire de mim esses lábios carnudos
que absorvem meu êxtase
lambem meus órgãos
chupam minha alma

Para demônio!
Desgruda do meu corpo
esse prazer mascarado
esta me matando aos poucos

Se não fosse o sofrimento
que me espanca quando fico em pé
me deixaria devorar
nesse ritual inesgotável
que se intensifica
por culpa desse pacto
de adiar o gozo
até transcender

Me erra, senhor das trevas!
os delírios horizontais
eu vou pagar com a vida
você se transformou em minha heroína

Que me salve esse poema
que essas letras digitadas
conjurem para que seus talentos de galante
não mais me alcancem

Vaza capeta!
O elixir do meu ser
você já tem
que mais você quer?

sábado, 22 de outubro de 2011

Drummoniando

Um carro passando,
a luz de um poste qualquer,
qualquer coisa longe

Um moço indo
ereto, olhos à frente,
onde mal se enxerga

O sol que saiu
O sal que sobrou
O mar que sorri

igual todo dia que vai
lá fora, enquanto aqui

se fode, com vagar...

Eta vida boa, meu Deus.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

drummond de conchinha

por baixo das colchas vivia um desejo
um desejo capaz de embarcar o mundo
por baixo das colchas vivia um mundo
e todo desejo que ali cabia
coxas, gemidos, taras
era mais
muito mais
que qualquer colcha
que qualquer mundo

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A atriz


O lugar é escuro e estreito
As mesas, poucas, ocupam os cantos
do que parece ser um longo corredor.
Na pequena pista estroboscópica ,
A imperatriz acena
Com um punhado de gestos picotados
Meio xacaxaca na butchaca, Shaft!
a cena, acende o poeta.
Opalescente bum
Incandescente bum
Pluribunda unibunda

É ela a atriz!
Bunda maga e plural, bunda alem do irreal
Concentra a música incessante
Do girabundo cósmico.
Vai seguindo e cantando e envolvendo de espasmo
o arco do triunfo, a ponte de suspiros
a torre de suicídio, a morte do Arpoador
bunditálix, bundífoda
bundamor, bundamor, bundamor, bundamor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

AMAR

"que pode uma criatura, senão
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,
amar e malamar
amar, desamar, amar
sempre, e até de olhos vidrados,
amar"

CDA, Amar do livro Claro Enigma

sábado, 15 de outubro de 2011

Casa da Cachaça

Na esquina da Mem de Sá,
a última ponta, o último gole no gengibre, a última ronda
Olhos vermelhos caçam
Bocas vermelhas querem
Nem sempre se encontram: já é sábado.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um RIO de Sustos Clama por Choque de Realidade

Luis Turiba

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, a rua alagou, o bonde virou, a juíza morreu, o restaurante explodiu.
E agora, José, você que sofreu, você que pagou, você que explodiu, o que será do Rio? Quando pensamos que chegamos ao fim do bueiro, ou melhor, do poço, vem algo pior e quase inacreditável. Depois que um comandante da PM urde, trama e arma sua horda o silêncio da justiça, assinando uma juíza do bem em plena luz do dia, o que mais podemos esperar de uma cidade que não consegue mais disfarçar sua crueldade-jardim?
Sim, José! O Rio de Janeiro está gravemente enfermo. Está na UTI da civilidade e da razão. Precisa mesmo tomar um choque de realidade e verdade. De vergonha e de dignidade. Abre o olho prefeito. Olha a nau, Cabral. Na subida do morro me contaram: há algo de fedido e muito pobre no reino da poluída Guanabara.
Como fazer uma Copa do Mundo sem abolir a Lei de Gérson? Quem paga o pato? Quem solta o bicho? Quem ganha no grito? Quem é mais esperto? O secretário que culpa o motorneiro do bonde ou o dono do gás explosivo que se hospitaliza para fugir do flagrante. Também quero o meu Nike. UPPs de TPM. Que recorde vamos bater nas Olimpíadas de 2016? O de desmandos, de corrupções, de desmantelos?
Chega de basta, José?
Ou restaura-se o mínimo de lógica, ou explodiremos todos no sol dos sem sentidos na Praça Tiradentes, no Corcovado, no Pão de Açúcar, no Maracanã, no Sambódromo, no Theatro Municipal.

sábado, 8 de outubro de 2011

Rua-Rio-Banco

Na Cinelândia
Na Carioca
Mais um artista de rua
... Pelé desde criança
Mata todas no peito
Chuta tudo pro alto
E equilibra
a vida
na testa

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

7 de Setembro
Ouvidor
Candelária
Descendo a Rio Branco em contramão
Rumo ao mar
Desaguar no porto
Despejado do povo
Expropriado do lar

Pereira Passos vive!

Rio Maravilha!
Senta o pau na UPP!

Porto Maravilha!
Faz mais um pra gente ver!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Largo

instituto de filosofia e ciências sociais
igreja de são franscisco de paula
rua do teatro

ciência e religião ficam
a arte é via

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Intercâmbio Catumbi

(versão quase kodak)

Da janela do 485
A cidade em cena - viagem
Moleque poema
Pede passagem

Bichos, oficinas e meninas
Putas, ou moças com calor
De submissão nem sinal
Semblante de quem tem
O samba no quintal

Pode até rir
Meu intercâmbio cultural
Passa pelo Catumbi

Porque sonhar só com o Leblon?
Vai querer um sonho são?

Sono lento, engarrafado.
Cerveja, boteco
Cortiço, sobrado
É querer demais querer tão pouco?
Nada... Sonho bom é sonho louco!

Saara


Alfândega, Senhor dos Passos
Passo a passo, "passo o ponto", "me desfaço".
No caminho, na Colombo,
colombina toma chá com serpentina.
Buenos Aires na Caçula pra caçar o que fazer.
Essas ruas tanta coisa tem para te dizer
... ouve o moço, vê a moça
tudo pra vender
Na esquina da Regente, o "Tá na Rua" pra te ver!
Pastel com laranjada,
kibe, esfirra, batucada,
Festa de São Jorge,
Ogunhê, santo guerreiro!
"Não aceitamos cheques", diz o letreiro.
Nessas ruas tem de tudo
de Sant'anna a Uruguaiana
de cotia a camelô
cristão, judeu, muçulmano,
árabe, hindu, coreano...
Não é deserto, é humano
Santa Sara,
Saravá,
SAARA!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DOI POEMETOS (LEMINSKIANOS) PARA O MIOLO DO CENTRO DO RIO

De Luis Turiba

ESTÁTUAS

Carlos Gomes
João Caetano
Tiradentes
Pixinguinha

Quando será que a prefeitura
vai inaugurar a minha?



CHOQUE DE ORDEM

camelos à vista

positivo operanti
viatura seguindo para o local

domingo, 18 de setembro de 2011

Centro

beco da sardinha
dos barbeiros
do rato
becos de baco

largo da prainha
de joão da baiana
da conceição
morro de som

ruas de gente
à mostra
à solta
atrás

de um centro
no rio

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

As coisas.

tudo é verbo
tudo que é paixão é mais
e não se basta quando se explica
o que tem o fogo,
tem o mar pra lembrar
e nada é o que não quer ser

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

6 POEMETOS VOANDO SOBRE O MAR DO NORTE

Luis Turiba

- 1 -

peixes costuram
oceanos
praias bordam

- 2 -

A Sibéria
é gelada
como um sorvete
haange-dazs

só que não dá pra chupar


- 3 -


Nova Deli
de uma velha
(e boa) Índia


- 4 -

impuras
de Singapura
não vão à
Budapeste


- 5 -

Jacarta
fora do baralho


- 6 -

Tokio tem a linguagem do riso
Rio tem a linguagem do toque

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

No largo do machado: [ainda]


O real urina na utopia
balança e vai embora,
sem poesia.

...

o real urina na poesia
balança e vai embora,
sem utopia.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

“ESTAÇÃO DE TREM: VIGÁRIO GERAL”

Estrutura de concreto e ferro
Com vista
Para a Serra dos Órgãos
Onde o dedo de Deus
É cercado
Por uma floresta
Tropical

Plataforma de partida ou chegada
De inúmeros trabalhadores

Estrutura de concreto e ferro
De onde também se vê
Os quatro andares
Do Centro Cultural Waly Salomão
Que fica na Praça
Tropicalismo

Lugar
Onde há 18 anos
Pessoas inocentes
Foram assassinadas
Em vão

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PassosAláCabanaArpoApa

Meu Senhor dos Passos
conduza
meus pés sonhadores
e passageiros
pelo Jardim de Alá
Lá,na copa de uma copacabana
meu corpo mergulhe as águas
do mineral Arpoador
E,então, seja a Lapa
meu júbilo e vivo descanso.

sábado, 27 de agosto de 2011

Título: Feira de São Cristovão
Material: Humano
Dimensões: Diversas ( pequenas e grandes clareiras )

tengo-lengo tengo-lengo
a sanfona,
a zabumba,
tengo- lengo tengo- lengo
musica que bate e sacode
bate e vai, bate e vem
sacode, saco de ferrinhos
sacode forró e xaxado
falsos pés de mamão, cactos, coqueiros, florões.
Baloes que não caem, no teto acesos
Bandeiras, bandeirinhas, bandeirolas

até o silêncio que fica depois faz dançar

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

IMPRESSÕES DE UMA COMUNICAÇÃO

LÍNGUA SORRISO

Luis Turiba

totalmente estrangeiro na ilha do Sol Nascente
a língua é uma barreira não uma fronteira
não existem fronteiras para quem sorri
ando de metrô almoço pago contas
como sushi e tropeço na multidão
Hay!
tiro fotos compro pão suco de laranja
manteiga e café na loja de conveniência
próxima ao hotel
Hay!
atravesso ruas obedeço à mão inglesa
páro para ver letreiros que piscam seus
ideogramas em jogos lisérgicos de luzes
e cores vendendo bugingangas
eletrônicas e cibernéticas
Hay!
parece até que já andei por aqui pois
por tras de cada japonesa existe
um sorriso tímido quase gueixa e algumas
até arriscam comunicação com um breve
tchauzinho e mão de concha na boca
Hay!
gosto das meninas e jovens que
se fantasiam de bonecas tomogotchis
e andam trocando pernas como Any
Winehouse pelos cruzamentos do Shabuia
com seus sapatos rosas choque e meinhas
de babados coloridos e mini saias esvoaçantes
Hay!
e também dos meninos que fazem sobrancelhas
e usam óculos com aros pesados e coloridos
são hippies da modernidade oriental
com uma porção gay pulsando nos olhos de amêndoas
Hay!
quem não se comunica se trumbica dizia
Chacrinha mas aqui dentro do metrô não há
comunicação de olhares como no Rio
se esbarram ninguém pede desculpa nem sorry
aqui ninguém vê ninguém e todos teclam seus
celulares para mensagens ou lêem livos com
frases na vertical
Hay!
no Japão é oito ou oitenta e oito
é moto kawasaki 1800 ou quimono de fora
dos templos dos samurais
e tudo se comunica entre si por sorrisos de
arigatôs ou notas de yens trocadas por dólares
numa casa de câmbio de Ueno ou Akidabara

Tókio, 23/08/2011



terça-feira, 23 de agosto de 2011

poema escrito na esquina


Esse bairro aspira poeira
             os mil concretos
armados     –     ebulindo
numa quizumba

de furos e pinos e vergalhos
torcendo e     transpassando
aquilo vertiginoso
                                  e viril

esse bairro tem mil gentes
passam       –     na pressa
ou malemolengas

transando mil tarefas
de ir nos       bancos
ou            mercados
feiras  ou     cinemas
botecos ou  rodízios

ou

m   a  s
passam

um
passo
e outro
um rosto
mixa-se
noutro
e passa
dúbio
em outro
rosto que funde-se
noutro e num e num e noutro e mais

os passos
podendo ser

de   toc  toc  cínico   de   salto
ou soft tênis com solado  largo
e tilintar agônico dum chaveiro
m    e     t     á     l     i     c    o

funde-se rosto    e  passo
e rostos e passos e assim
se passa a vida  pulsando

esse bairro
aspira poeira e  é 
t      o      d       o
algo chamuscado
algo       irregular
algo torto       ou
retorcido

esse bairro
                 é
construção sobre
                      ruína.



Bairro Chique



Terra à Vista! Terra à Vista!

No mar de cimento, numa Avenida Chamada Brasil, o calor é sempre de 40 graus

Nadando sobre as águas da chuva ou sob a foice dos raios de sol

E sempre se pode fritar uma dúzia de ovos

Porque as árvores se transformaram em sítios de pau e pedra

Não há flores

OlariaBrásdePinaPavunaIrajáPenhaParadadeLucasjardimAméricaViladaPenhaCordovil

No alto da Avenida

Com a cidade acesa

A Subida da ladeira

O primeiro obstáculo: atravessar o rio de lixo num modelo 1000

Então

Dar de frente com a Torre alta adornada por buracos de bala

Só entao subir um cem número de escadas

E aí sim: ouvir gargalhada de criança

Apertar o cinto e partir para uma viagem imaginária...

Te chamam Bairro Chique

No entanto, mais pareces um bairro fantasma

Onde as almas andam como invisíveis para alguns

Embora sejam feitas de sangue, suor e sonhos

Escondida estás sob a face de um Cristo que abraça e sorri

Estás plantada na mesma cidade das Ipanema, das Tijuca, das Santa Cruz

Mas quase ninguém te vê...

Há que te descobrir...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

LARGO SANTO 3

Onde o bonde faz a curva
um largo onde o tempo faz
hora digerindo o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
bebe-se com calma lá
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
formam um mural bem manso
no silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Onde o bonde faz a curva
boteco da goiabeira
Nossa Senhora das Neves
que Santa espreguiçadeira!


LARGO SANTO 2

Onde o bonde faz a curva
um largo onde o tempo faz
hora digerindo o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
bebe-se com calma lá
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
formam um mural bem manso
no silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Onde o bonde faz a curva
lá onde o remanso deita
Nossa Senhora das Neves
de sua capela branca
escuta quem ali chega.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

18:30

A medida que o céu
escurece,
a cidade, mansamente
acende suas luzes.
18:46 Trânsito lento, Elevado da Perimetral
O olho, no viaduto, vê de outro ângulo, o que passa.
Cenário de edifícios e janelas.
Quatro acesas, duas não.
Sim, não, sim, sim, sim,
não, sim, duas fileiras de não.
Ali adiante, um único sim.
19:08 Trânsito fluindo devagar.
Luzes.
Muitas e diversas,
brancas, amarelas, fracas, intensas, azuladas,
no teto, embutidas, penduradas,
lavam, pontuam, vibram e transformam...
criam atmosfera, aumentam o volume da imaginação.
Piscinas de fibra, verticais como sarcófagos
Lembram portais intergaláticos.
Os letreiros se modificam e se deslocam.
Acompanhados de lanternas, faróis, luz de freio, painéis.
19:22 Trânsito intenso, fluxo livre, sem retenções.

.



O ponto
contrapõe o branco
por que se espalha e acirra
.o tato
.o olho
pega-pega
.o senso
.a tinta
pegue-e-pague
.a forma
.o jogo
ponto a ponto
.o traço
.a linha
poiesis
.a quebra
érrA
.a curva
.a tela
.a letra urra
.o texto
.o trem
.e a terra
corre
.e tudo
j
o
r
. r
n a
a
d
a
.

HAICAI KODAK




presidente vargas
rio branco vão
só a candelária não


terça-feira, 16 de agosto de 2011

LARGO SANTO

Onde o bonde faz a curva
tem um largo onde se chega
para se encontrar o tempo
estacionado em conversas
à luz da rua, nos bares,
onde se bebe com calma
o pipoqueiro, as crianças,
as cores do casario,
onde se vive bem manso
o silêncio, o ciciar
das respirações, até
vez em quando um carro, um ônibus
desponta e lembra, a cidade
lá longe é como se fosse
outra cidade e não essa.

Menos sábado, em que chega
o carnaval, quando desce
o céu na terra cedinho
e as cores gritando alto
em festa, numa orgia
de música e desalinho,
à mostra nas fantasias,
cortejam tanta alegria,
que vozes meio abafadas
confusas com a desordem
se queixam meio mofadas
reclamam da barulheira
apelam até pros santos
“Valei-me, santinha lei,
Acode-me, ó deus-prefeito!”

Pra sorte dos que festejam
mais forte que os que bocejam
é a santa que ali protege
tanto os que se dizem cheios
quanto os que da vida bebem,
Nossa Senhora das Neves
de sua capela avisa:
credo! deixem de besteira!
lugar de guardar silêncio
agora só na quaresma
esperem a quarta-feira!

Onde o bonde faz a curva
lá onde o silêncio deita
o corso comunga o riso
no gozo da santa paz.

Kodac pra Cep 21

Lagoa 


I

A bicicleta passa apressada pela Lagoa
De tão triste nem repara na paisagem
Quando se dá conta já é tarde
E se arrepende num suspiro


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

PISANDO EM FOLHAS SECAS


Corações de Amendoa


LUIS TURIBA

Agosto é o mês que as amendoeiras escolheram para trocar suas folhagens.
Ficam nuas para a chegada da primavera, primeiro sinal do verão que se anuncia.
Alguns ruas do Rio ficam cobertas por essas espécies em forma de abanos, balões imaginários e corações alados.
Abanos amarelados; balões degradês e corações cor de vinho quase encarnados. Alguns lindos, inesquecíveis.
Seguimos distraidamente nossos passos pisando nas folhas secas pelas calçadas, asfaltos, paralelepípedos e vendo-as nos capôts dos carros.
Ando atento olhando o chão para não pisar nos corações secos, cortados, amassados, desfigurados, descoloridos, largados, safenados, triturados e perdidos que caem das amendoeiras dando seus últimos suspiros antes que algum gari a serviço da limpeza pública recolha-os para um triste fim em algum aterro sanitário da Comlurb.

Agora, corações
só o ano que vem, pulsações.

Ser ou Nao Ser?

Nao ha como nao SER
Faz calor
É minha alma anda solta a aprender outras línguas
As palabras se esvaziam de sentidos
Mas os gestos nao
Sinalizam
Entao o exercicio que faco é de compor sentidos lendo olhos e corpos
Assim eu também
Faco um exercico diario
Ultrapasssar as palabras para me comunicar
E nesse ritual, encontro-me
Permito que minha alma aprisionada
Se liberte e fale
É essa a que conversa
A que conta histórias
A que encanta
Sinto que reconheco essa alma de outros tempos
E descubro
Estarrecida
Que como numa história, um feitico terrível caíra sobre ela
Sim
Essa alma, a que se liberta
Esteve aprisionada a todas as suas dores
A todos os dissabores
Porque aprendera a SER como se quiseram que Fosse
E assim esvaziava seus días a vive a sequencia das horas
O desencantamento comecou
E enquanto se desencanta, mais forte e bela fica
Foi preciso que essa alma retornasse
Lendo o outro para comecara a ler a si
E ver que nao é tao terrivel
Ser tao doce
E amar tanto
E ser tao sensivel…
Esta alma agora anda assustada com tantas revelacoes
Mas se faz forte porque
Encontrara seu destino
O destino de buscar, encontrar para partir e buscar de novo…
O destino de SER
Faz Calor…
Nao há como nao SER




domingo, 14 de agosto de 2011

tijuca

1.
passa-se uma cruz
à avenida maracanã
com são francisco xavier
está lá o posto forza o vermelho do corsa
e o letreiro tutta l'ora amarelo
sanduíche + coca-cola grátis
oito e noventa e nove
refletido o córrego e a garça
de bico amarelo e pena espaça
na água cinza com embalagens

2.
claro de sol forte do meio-dia
fica o camelô meio vendido
na calçada da vinte e oito
como guaravita, brahma latão
água e o suor escorrendo
pelas mãos escoradas no meio-fio
branco e azul com a coroa
da quadra da unidos de vila isabel

3.
o sinal vermelho para
tudo o que tem roda
na frente da padaria
e do mercado bem do lado
do caminho que segue
para a praça saens peña
cem anos na fotografia
da igreja monumental
e o entra e sai
de quem agora crava
o sinal vermelho
para tudo o que tem dedos

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Chateau(Sobre o Castelo do Vinho,em Jacarepaguá-RJ)

No tempo do  barão da Taquara
era caiana brancura
a curimba da malungada
 rapetrês calibrino
onde manguava Inteiriça
a populaça  inda cheirando a senzala :
Guardando  a  ferro  uns gorós
pros orixás de cabeça .

Após de muito depois______
onde era  Sêsma  tindiba
é ver maloca  de baco
assim cafofo dos Pifas
famoso em toda Cidade

o bom barão coitadim
desencarnou  muito antes
e nem montando  Arigó
apareceu lá  prum  porto

 dos  bons  Rostos do bairro
um dos postais da Cidade ,
vinhaça  Amiga  de sobra , calibre :
 pra todo  mundo !!!_______

Inclusos os jacarés
e os velhos índios  pinguços .

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

422/98

Manhã
quase tarde
vizinho
porteiro
o chef de cozinha
sensei
verdureiro
meus pães
esses rostos
milhares de laranjeiras
nos rostos
de dia
no ponto
meninos
meninas
mordazes
da escola
bom dia
de pressa
e desprezo
meu troco
piloto
depressa
que é tarde
nos passos de dentro
de fora
vai lento
o dia
janela
vai vento
que entra
nos ferros
assentos
nos rostos
vazios
em volta
os surdos e mudos
falando aos gritos

quatro vinte e dois nove oito

que fome desnecessária
tão perto da praça
são salvador
tão junto
delícias
do largo
do machado ao largo
onde subiu um moço
e subiu o medo
do assalto
outro dia foi com a vizinha
e conheço um conhecido de um conhecido que aconteceu também...
cacete
o catete
da morte do presidente
acolhe o moço
que desce
alívio...
mas teve a moça!
roubaram a moça!
o telefone
ô sorte!
esse palácio no meu caminho
jardins no fundo
quase me esqueço
do compromisso
de todos nós
e de novo é tarde

quatro nove oito vinte e dois

ali na glória
de nossa senhora do outeiro
vigiando o mar
e as avenidas
os monumentos
longe os pracinhas mortos
ao lado a praça paris
o passeio
ficando pra trás
correndo
pára!
não pára não, moço
eu quero descer!
tá fora do ponto
pronto
tá no obelisco da rio branco
onde houve cavalos
e um monroe que não há mais
depois giramos
à sombra dos aviões
entrando no fim do aterro
embaixo no mergulhão
está escuro para se ler
para fugir
de tudo que vai lá fora
daquilo que vai por dentro
é quase o instante
da candelária
dobrar o angelus
vão-se nas barcas
vão-se na praça
quinze almas penadas
quinze apenados
mas o ar invade
o respirar
a marinha
o banco
a igreja
o branco do dia
das ordens
obrigações
nesses prédios
que são cidade
como é cidade
os que descem
os que ficam para seguir
para onde
não sei
não vou saber
nunca
se sabe além
daquilo
que mal se vê.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Penélope

Em tela
o tramado
é tecido
em nós
fios
novelos
contornos
contrastes
consensos
cores
cem textos
tramam
com-tatos
tocam
e
tremam
textura
de trezentos
traços
trocentos
troços

tapetes
taciturnos
traem
trançam
e
traçam
tecidos
em tantos
pontos
contos,
cantos,
contas
e esperas

palavras
pa-lavras
lavram
hiatos
histórias
inicio
fim
...
no texto
trama o
contexto onde
o drama tece
a sina e
o tecido diz
o texto
e a espera
aqui termina.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Hai Kai em Forma de Comentário ...

                                   "...eles("poetas") tantos
                                    e ela(Poesia)
                                    de tão  poucos ."(Carlito Azevedo)


Demais  o número de pais franciscos
querendo uma roda
pra tocar  violão ...

Outra Canção Amiga

Eu também preparo
uma canção  não-modesta
em que eu mereça  minha mãe
se reconheçam as flores
e abra os olhos de muitos

Andando  muitos países
busque as árvores de Maio
acorde  as cores do Outono
e sejam  verde-Esperança

que nossas vidas-Semente
brotem no cinza das coisas
das horas-Pressa , e da vida
mostrem aos ombros curvados
o chão dos pássaros , Todos

Eu preparo  canção
que seja mais que apenas sentimento
e nela durmam todas as Infâncias .

quinta-feira, 28 de julho de 2011



No céu da boca
a palavra ESTRELA
se forma
faz cócegas
e nos dentes
ESTALA
feito fogos
de artíficio

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Arqueologia da Palavra

Moram,
discretos,
nas pedras
da minha rua,
versos do poeta.
Lá estão as palavras,
potentes, na paisagem do chão.
Transito em sua órbita, diariamente.
Indiferente, o tempo, cumpre seu papel.
Deita pó e poeira na superfície das palavras,
escondendo de quem passa, o óbvio
E assim, sem notar, enriquece
arqueologicamente,
o canto do poeta.

terça-feira, 26 de julho de 2011

QUEM

As manchas que terão que ser lavadas.
As mesas presas ao chão da sala.
As plantas sob o prédio em forma de disco voador que nunca tomam sol.
O passarinho que atravessa com seu bico o olho de um outro.
Os meninos desperdiçados em suas infinitas inteligências.
Existir sem expectativas, julgamentos, desejos, cloro, clamídia, desvios, retornos, remorsos, imundícies, flores, apegos, azougues e gostos.
O corpo como fonte de prazeres.
O sexo como fim da angústia.
O novo mundo do novo homem.
Os jovens largados no capim.

Ah! a Lu, que é Luminar.
E a Ju, que é Juvenília.

As pernas salvas pelo gozo
as pontas sempre em vão
os pedidos entrecortados
o riso impedido e à mostra
o não arbítrio
o nada dito, nada feito
o achado em forma de gema,
os gametas, a goma, o gongo, o gonzo, o gânglio, as gôndolas, o engasgado da língua lânguida.
Os hieroglifos encontrados sob a pele de lycra e lingerie.
Um pé de tamarindo.
Aquele barco ali no porto
Aquele

E o demônio amigo meu à porta
Com a santa minha moça à venda.

Um naufrágio alheio
em que nada disso é o que sou,
nem há partes de mim,
enquanto me movo
sentindo o peso de ilusões,
de sonhos teimosos,
desejados e cruéis.

Um retrato arisco
em que não sou quem está,
ou quem a voz impõe,
nem sou quem mordisca
uns talinhos de surpresa
e atiça a morte
com a solidão.

Não.

Fui ver e não

Esse é outro.
Deve ser outro.

Inverso e análogo outro
que engana.
Diamétrico e torpe, outro
que ama.

Autológico outro
que não divisa, atrai

que ma(i)s

Deve ser quem
Decerto quem

domingo, 24 de julho de 2011

Para o exercício com palavras, uma tentativa, para não passar em branco

As andorinhas não vão para o colégio

“Es verdad que las golondrinas 
van a establecerse en la luna?

Pablo Neruda


As palavras
O desenho
O som
O movimento que é corpo
Corpo no papel,
a dança da escrita

As palavras, o desenho, o som
A música que dita a dança das letras
A música que dita o desenho do corpo

Ou serão as palavras que fazem música?
as letras que conduzem a dança,
os corpos?

Onde começa?

(pausa)

Tanto faz

se as palavras, o desenho, o som
o corpo, as palavras, o desenho
o som, o corpo, as palavras
o desenho, o som, o corpo

(pausa)

Tanto faz.                                                                            

As palavras desenharão corpos ao seu som?
As palavras desenharão corpos sonoros?

Sem as palavras talvez desenho e som e corpo descansassem em paz
Ou ao menos sem se dar conta
Ou ao menos sem de dar conta de que sentido é preciso ou possível — inevitável?
Ou ao menos sem se dar conta de que estão sempre sendo sem parar
e assim não sentissem esse cansaço enorme

Só nos movimentamos porque temos que:
Porque há sempre essa espreita
Mas se ninguém nos tivesse contado
Mexeríamos inocentes e tranqüilos
Sem preguiça
Sem ansiedade
Mexeríamos simplesmente
Naturalmente
Como as andorinhas vão pro sul no inverno

As andorinhas não se cansam

Paradas ou no céu
Sempre à espreita
Como se não estivessem — sempre mexendo

Ninguém contou pra elas.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

ouvidolho

o olho envolvido na boca

de cena, o cantor


repercute reverbera


a palavra aqui escrita





chacal





Plurisignificando

sobre o poema ruim ou o que não deu certo

http://youtu.be/mA6P9fEIZMY

de pés na rua, descalço
escreve no asfalto
o roteiro de um filme traduzido
o início de uma estrofe qualquer
ou a birra de um sentimento guardado
palavras esmas
sílabas ao acaso
no ritmo do marasmo:
um samba atravessado
um cinema às moscas
a peça encenada ao ator
e tudo mais que se esforça
em riscar palavras no asfalto
em pôr os pés onde devem estar.

onde os pés devem estar?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

" E AGORA? "

O poema
fugiu
repleto
de palavras e silêncios

Como miragem
mergulhada ao sol,
é visto
lá no horizonte,
nadando continuamente
o mar da história.

o poema
agora é parte de mim.
Nasce ao sul
sobe pelas artérias
pulsa na pélvis
explora
selvagem

Invade o coração
mora lá por um tempo.
Faz amigos
inventa amores
escolhe prediletos

Vê o tempo passar.

Sobre o cérebro deita
e dorme.

Participa dos sonhos
como um músico.
no elenco,
o protagonista bêbado
a violenta
virgem
um
anjo
chamado
navegador
segue,
e desconhece
o remorso.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

POETA DE OLHAR TRÍVIO

Luis Turiba

roubaram do poeta os óculos
tirando-lhe o visual d´estátua
há neste furto certo imblóglio
um quê místico, ar de máfia

de olhar férreo de minério
o poeta mantém-se etéreo
nem o fogo solda cáustica
tira dele o “zero-a-zero”

com ou sem seus óculos
o poeta não mexe músculo
nem na passagem do monótono
mas frenético monobloco

de costas pro mar esquálido
Carlos Drummond é o espírito
do poeta que sem óculos
tem visão de olho mágico

Carlos Drummond é o máximo
que ilumina nossos mínimos
de bronze é toda a poética
que se traduz em olhar trívio

Mindincanto N.2 ( Para a amiga-irmã Lucinha )

                                             "Vida  é o que te acontece
                                               enquanto  você está  ocupado
                                               fazendo  outros planos ." ( John  Lennon )


Entonces
demais   Tamanha
a cara da  vida - Pressa ?
Mas , vejam : Depois dos  noves de  Fora
ainda um gosto de  Muito
a gente amarra nas esquinas do  Tempo ,
quando  de-Menos  se pensa
e mais  se deixa que a  Vida
à vela Toda  navegue .

Tema e variação

                      I)Tema


Nóis tudo  torque danado
toco de amarrá  jegue
essa incelença de tempo
e corda troncha da vida :
Onde uns cordéis  pode Tudo
o resto  isgárça nas curva
sede véia mardita
martirizança  inzelenta
dum todo cú Sevirino .

                      II)Variação


Nóis  torque  di tudo-Jegue
tôco de amarrá  mundo
essa incelença  fidida
vida   ripa   distroncha_____
Onde uns podente   dismanda
e o resto  à mor mais disgrama


se fode   Fundo  o furdunço
dos  sevirino   nóis tudo
um todo  poço sem fundo
de  jabaquê  'caba-mundo !!

sábado, 16 de julho de 2011

“DECEPCIONADO”

Hoje passei por uma terrível
Decepção-amorosa.

O amor
É passion-fruit!
O amor
É limão-azedo?

Ser amado
É experimentar uma pimenta e achá-la doce!
Ser amado
É experimentar todas as salinas do mundo?

O amor
É o altíssimo ‘WORLD TRADE CENTER’!
O amor
É o baixíssimo escombro do ‘WORLD TRADE CENTER’?

Ser amado
É receber mais que um beijo na bochecha!
Ser amado
É receber mais que um beijo do ‘BUSH’?

O amor
É fogo que arde sem se ver!
O amor
É uma queimadura de primeiro-grau?

Ser amado
É estar performando alegremente no ‘CEP 20.000’!
Ser amado
É estar performando tristemente no ‘CEP 20.000’?



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Imagens( Para Liv Nicolsky )

Deste outro lado  tem ventos
tem pôr do sol na janela ,
os nichos da ordem e da desordem .
Tem  Lautréamont tomando chope na Lapa
junto do Blaise Cendrars
que puxa um brinde  com o braço
perdido em todas as guerras .

Deste outro lado  tem flores
certeza amores na mente
a história viva na mão ,
mas tem demônios de olho
com dentes pernas bandeiras , brigitte  à  Solta
não é sopa  Não .

Mas vem depois  fevereiro
depois do agosto  perturbando as pipas ,
tem mestre André  parando a avenida
e abrindo todas as bocas .

O  soviete deu   mole
perdeu cadeira na Dança______
os anjos de calça  larga
estão de luto , choram baixinho
a sorte da   oitava  nota .

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Carvoeiro

Noite  depois  do rush .
Os menininhos  carvoeiros de novo
sobre a cidade . Parecem os mesmos
do morro do Curvelo vistos  por um poeta ,
bota cem anos  Nisso .

Não  há  mais  burros  descadeirados ,
nem  carvão  escapando  da  aniagem
toda remendada . Mas são eles ,
sem dúvida .

O sujo  das caras tristes faz  pas-de-deux
com as  roupas rotas imundas , as mãos pequenas
rasgam  caixas de papelão( serão  vendidas depois )
em plena rua sete de setembro .

Estão descalças  apesar do frio , a roupa rota estronchada
apesar do Frio . Corpo há muito
sem banho . Um deles  tem nem seis anos ,
mastiga  risonho  um quibe
catado  num lixo  próximo . Parece o bicho  do pátio
catando a vida  entre os detritos .

Enquanto  os  outros que passam -  eu você  todo mundo -
passando em grossa  agressiva
cegueira crassa , Maldita_____

Esses mininos a esta altura do jongo
ainda que nem joão  gostoso :
Morro da Babilônia , barracão
sem Número .

Visões de São Mármaro - IV( Ao amigo Augusto de Guimaraens Cavalcanti )

O anjo  da guarda
desperta da canção primitiva
sobre o berço  azul______mundo nasce
e a glória da  Virgem
atrai demônios pro  Esquecimento
depois  da estrela aparecer na pérsia .

Repousam  formas veladas
na rua , agora deserta
até que o pássaro  acorde
e as caravanas de Hagar
nos levem sobre o deserto
nosso dorso de pérola_____

Não fique  do grande Templo
tijolo sobre tijolo
no quarto dependurado
sobre os cordéis da  Memória .

São Jorge

Praça de Sulacap ,
no vulgo , só macumbódromo .
Cacimbas e barnabés
cambonam  santo guerreiro
quizomba  samba de roda
odorações , reverências____
Abril xerém pare Festa
ogum magé   vinte e  três
festália   Ilé ,
Canembê !!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Clip - Com vocês, Farani Cinco Tres...

PARA CHACAL E SUAS FARANÍSSIMAS E SEUS NÍSSIMOS

"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

João Guimarães Rosa, 'Grande Sertão: Veredas'
pova daquela rua,


estou muito pra lá de felissíssimo. a gente conseguiu formar um grupo e começar os trabalhos. o cep se fortaleceu com a atuação lusco-fusco-lanternosa do farani. estamos começando. o que eu temia - a falta de estimulation de minha parte pra vcs e vice versa - creio que foi vencida. a batalha é árduríssima para se injetar um tico de poesia nesse nosso dia a dia da produção da sobrevivença. mas pelos momentos cepeleza, pelos instantes surpreendentes na biblioteca, isso me faz ver claramente que a poesia vencerá e o mundo a seu modo levitará para estratosferas lucílimas, aníferas, gitânicas, felípiramidais, adorandômicas, paulíssimas, turibenhas, brunilongas, carolíngeas, thadeurísticas, alicinógenas, silvícolas, dorlyngolaringologísticas, livulmanísticas, gizelonovísticas, deborolânguidas, alicequesaiusística e outr@s q virãológico.
hoje 30 de junho tem uma saideira para férias físicas. recarregar baterias, esticar o couro. em vírtua, todo dia toda hora. agosto retomamos a biblioteca. não se percam da poesia. três versos por dia antes das refeições. poemas kodak. diário de acampamento. poesia é ler e escrever. o resto é socializar no cep, aqui onde for.
até já, chacalov.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Numa hora
a gente se joga
se agarra
se amarra
se enrola
se olha
se gosta
se pega
se engole
se mexe
se reconhece
se reflete
se entrosa 
se provoca
se desafia
se asfixia

se desencanta

se descontenta

se enjoa

se magoa

se joga fora

e vai embora.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

NEURASTÊNICO DE JACAREPAGUÁ

Para ouvir a música, entre com o título no google

Neurastênico

Ronnie Cord
Composição: Betinho / Nazareno de Brito

Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Mas que nervoso estou
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Sou neurastênico
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Preciso me tratar,
senão eu vou prá Jacarepaguá

Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Mas que nervo sou estou
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Sou neurastênico
Preciso me casar,
senão eu vou prá Jacarepaguá

Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Mas que nervoso estou
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Tou Neurastênico
Bbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrr!
Preciso me casar,
senão eu vou pra Jacarepaguá

Tão amoroso sou, quem já provou gostou
Preciso me casar, senão eu vou prá Jacarepaguá
Eu sei que elas me querem, mas é para casar
Eu digo que me esperem porque depois da festa
HÁ HÁ TÁ TÁ!!!

Soltas - N. 1 ( Dedicado ao amigo Luis Turiba )

Pufe em sala vazia .
Janelas fechadas(homens  há  muito  Extintos) ,
tapete(disfarçadamente)
persa . Livrerso  aberto  no pufe ,
onde tem versos  que engolem ostras
e metem  língua  no  Lula .

Caetano  sente  a preguiça ,
quem  lê  notícia  em dezembro ?
Moças  de bronze  nuas
nunca mais foram  na escola .

Bispo  do Rosário  arremata :
" O obelisco da  av. rio branco  não  é  mourão
de amarrar  cavalo ! "

Boca bonita , todo um riacho  mais doce :
____Morrerei de sede .

Poemeto(Sobre o poema "Endereço das cinco marias",do livro "Poemas",de Murilo Mendes)

Era uma vez meus senhores
sujeito de Juiz de Fora :
Gastara  parte da vida
ranchando-se em quase Nada ,
gostando
cinco marias .

Perdeu primeira pro exército ,
e outra
pro  Beleléu .

As  três marias restantes
esperam  próximo  incauto :
Olhando de lá do  céu .

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Soneto Inglês N. 3

E ascende  Cerne  o  Sentido
em forma e pulso  de  Tempo .
No raso  morto  a caatinga
contando  vida que  a morte

anda  levando  , Ocupada .
Mas  quando  chuva  Aparece
rosto  do povo  chora
de  alívio , Verde  alegria :

Meu  padim Ciço  lá em cima
olhou  pra gente  nóis  Tudo
os home  os bicho o plantado
que  vida 'garra de  Novo____

Recende  então  Refazenda
chuvada  amiga , Malunga .

Mindincanto N.1

                                       I

No horto do parque  Guinle .
O nome que batiza  um morro ali perto
era o de um padre , eu soube foi vigário
no Encantado --  tempo em que no Andaraí
Dom-Dom  jogava ...


                                    II

Algodoando , sen - tido !!
Era o colégio(!)um pratim
primeira série os feijões
zanzando num  cazumbó :

Eu mestre no  Fuzuê
pra bem  depois nota  três______
era o primário e  a  teteca
titia  tããão  malamada .....

____Só dava  zebra  meu bicho .

quinta-feira, 23 de junho de 2011

do porto a central

...e todo esse casario
dessa vila esquecida
e essas calçadas rotas
para essa gente à margem.

essas fraturas expostas
fios nervosos
embaralhados
veias trombóticas
hemorróidas nesse
cu de mundo.

lixo em ribeiras
de esgoto,
às margens da margem,
além da periferia,
dentro e intruso.

ao som do medo
no balanço do caos,
fluxo inverso,
na contra mão
contra vontade.

e há o cheiro
de abandono -
porque ele fede
e é feio,
é triste,
e é vergonhoso,
e é caótico
sem criação,
e é formigueiro
sem a inteligência
das formigas,
e é escuro
com sol a pino,
e denso
sob a luz
e a indiferença
da cidade.

essas margens
não gritam,
estão doentes,
gangrenam
pelas bordas
a cidade,
silenciosamente.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Configurama

Eu existo para assistir
ao nascimento da poesia
nas profundezas do  Homem .

Colher no peito das árvores
a seiva amiga das palavras ,
andar no firmamento dos pássaros
onde os primeiros  Três
plantaram a volta  do pródigo .

No limiar das  Esferas
sorver o orvalho dos pianos
enquanto  à espera da musa______
que me trará  sobre o colo
o retrato de meu filho
e o fim de todos os Séculos
no alto do corcovado .