não vai cair na prova. mas pode ser útil.
se quiserem fazer uma quadra misturando
versos de rima soante e rima toante
pode ser útil. leiam os poemas em voz alta
e percebam as diferenças com o ouvido.
e não esqueçam que não só de rima vive o verso melódico.
A RIMA (celso cunha)
1 – lendo essa quadrinha popular:
tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonita...
meu pai sem ter uma nora!
Verificamos que:
A – o 1º e o 3º verso apresentam uma identidade de vogais a partir da última vogal tônica: i-a (lima/bonita);
B – o 2º e o 4º verso apresentam uma correspondência de sons finais ainda mais perfeita, pois, a partir da última vogal tônica, se igualam todos os fonemas (vogais e consoantes): -ora (amora-nora).
2 – esta identidade ou semelhança de sons em lugares determinados dos versos é o que se chama RIMA. Se a correspondência de sons é completa, a RIMA diz SOANTE, CONSOANTE ou simplesmente CONSONÂNCIA. Se há conformidade apenas da vogal tônica ou das vogais a partir da tônica, a RIMA denomina-se TOANTE, ASSONANTE, ou simplemente ASSONÂNCIA (João Cabral)
1 - IMITAÇÃO DA ÁGUA
De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.
Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.
Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.
Uma onda que parara
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista
e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa)
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
Uma onda que guardasse
na praia cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,
e em sua imobilidade
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas
mais o clima de águas fundas
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
(João Cabral de Melo Neto – QUADERNA- 56/59)
A RIMA E O ACENTO
Quanto à posição do acento tônico, as RIMAS, como as palavras, podem ser:
A – agudas: (oxítonas)
Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomAR,
Que nos céus os anjos regam com luAR...
(Guerra Junqueiro)
B – graves: (paroxítonas)
Trago-te flores, restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa separados
C – esdrúxulas : (proparoxítonas)
No ar lento fumam gomas aromáticas
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas
As rimas agudas são também chamadas RIMAS MASCULINAS
As rimas graves, RIMAS FEMININAS
1 - A rima é uma coincidência de sons, não de letras. Por exemplo, há RIMA SOANTE PERFEITA
nestes versos de Alphonsus Guimaraens:
céu puro que o Sol trouxe
claro de norte a sul,
o teu olhar é doce,
negro assim, qual se fosse
inteiramente azul
tanto entre sul e azul, como entre as formas trouxe, doce e fosse, que apresentam a mesma terminação grafada de três maneiras diferentes.
2 – perfeita é também a rima de tem com mãe nesses versos do poeta português Fernando Pessoa:
Tão jovem! Que jovem era!
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino da sua mãe”.
Porque no falar lisboeta estas palavras soam iguais.
3 – Mas nem sempre há identidade absoluta entre os sons dispostos em rima, quer soante, quer toante. Algumas discordâncias tem sido mesmo largamente toleradas através dos tempos. Entre os casos de RIMA IMPERFEITA consagradas pelo uso, cabe mencionar:
a – o das vogais acentuadas E e O semi abertas como semi fechadas, prática inciada por Gil Vicente, no século XVI, e adotada desde então pelos poetas da língua:
quem disse à estrela do caminho
que ela há de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
(Almeida Garret)
...............................................
RIMA POBRE e RIMA RICA
1 – consideram-se POBRES as rimas soantes feitas com terminações muito correntes no idioma, principalmente as de palavras da mesma classe gramatical. É o caso, por exemplo de infinitos em –ar, dos particípios em –ado, dos gerúndios em –ando, dos dimnutivos em –inho, dos advérbios em –mente, dos adjetivos em –ante, dos substantivos em –ão e –eza, das palavras primitivas com os seus derivados por prefixação: amor-desamor, ver-rever, etc.
2 – são RICAS as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diversa ou de rimas pouco frequentes,
como nesses versos de Alphonsus de Guimaraens:
o teu olhar, senhora, é a estrela da alva
que entre alfombras de nuvens irradia:
salmo de amor, canto de alívio, e salva
de palmas a saudar a luz do dia...
alguns metricistas preferem reservar a qualificação RICAS para as rimas com consoante de apoio, do tipo dia-irradia.
3 – denominam-se RARAS ou PRECIOSAS as rimas excepcionais, difíceis de encontrar. Foram procuradas sobretudo pelos poetas parnasianos e simbolistas. Veja-se, por exemplo, esta rima de ditirambos com flambos, que aparece nos Helenos, de B. Lopes.
E, a rir, levamos entre ditirambos,
Eu, no açafate, as provisões do lanche,
Ela, um beijo a trinar nos lábios flambos!
E as cálix com digitális e de leque com Utreque, empregada em Horas, de Eugênio de Castro:
Oh os seus olhos! Suas unhas de amêndoa! E em cálix
O seu colo! E os seus dedos de digitális! –
Vai com suas aias, leva fino leque
Cauda de veludo pálido, de Utreque.
4 – por vezes, o poeta procura a raridade não só no campo fonético, mas também no campo morfológico. Do mesmo Eugênio de Castro são estes versos, em que rima um substantivo com uma forma verbo-pronominal:
eis que diz uma: - meus chapins descalçá-mos,
unge meus pés brancos com cheirosos bálsamos.
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Não faltam exemplos de rima em Horácio, Virgílio e outros poetas do período clássico, mas é nos cantos de textura popular, como o carmen, que vamos encontrá-los com maior frequência, o que nos leva a considerar tal homofonia de sons finais um dos seus elementos característicos.
O fato explica-se pelas necessidades do canto e, principalmente, pelo progressivo predomínio do acento de intensidade.
Numa versificação baseada na quantidade silábica e no acento de altura, como era a latina no período clássico, a rima teria forçosamente o caráter de puro adorno acidental – recurso lúdico ou de harmonia imitativa, quando não uma negligência. Nada, lembra j.m. meunier, poderia ser mais contrário ao princípio da métrica erudita do que volver, continuamente, às mesmas terminações. Obrigando a fixar a atenção em certas sílabas em detrimento do conjunto, essas rimas perturbavam a harmonia resultante da sucessão regular e do agrupamento variado das longas e das breves, sobre as quais insidia, ou o tempo forte métrico, ou o acento de altura. Nesta organização rítmica flexível e delicada, elas apareciam como notas discordantes e a tonalidade vulgar.
Já numa versificação puramente silábica, o rítmo é o simples efeito da alternância de sílabas fortes e fracas, ou seja impressionadas ou não pelo acento intensivo. A igualdade de som ou sons finais dos versos surge então como uma tosca forma de marcar-lhes o témino. Gaston Paris chega a afirmar, com certo exagero, que “uma versificação simplesmente silábica não passa de um corpo sem alma; é necessariamente em tudo material, e só pode obter efeitos pelo meio brutal da rima”.
A partir do século IV da nossa era, a rima começa a ser empregada de forma sistemática. Aparece então, na peça que finaliza as Instructiones de Comodiano e fixa-se, depois, nos hinos da liturgia cristã. Com o florescimento da poesia trovadoresca, nos séculos XII e XIII, ela assume uma importância capital e é explorada até os limites de seu poder expressivo. Basta para comprová-lo o fato de Las Leys d’Amors, tratado de poética de século XIV, enumerar 43 espécies de rimas utilizadas pelos trovadores occitânicos.
até quinta, dia 12 ou a qq momento poraqui
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