* notas:
- O FARANI CINCO TRÊS surgiu através da oficina orientada pelo poeta Chacal, na Biblioteca de Botafogo. Parceria da SMC RJ. Iniciada em Abril de 2011.
- O Farani Cinco Tres participa do projeto FORA DE ÁREA, em parceria com a rede NORTE COMUM, e realização do SESC Rio! As oficinas de jogos poéticos do FORA DE ÁREA acontecem todas as quintas feiras, às 18h30. Na biblioteca do SESC TIJUCA. É de graça, é só chegar. Recomeça em abril de 2013. É só chegar!
- O próximo CEP20000 será na última semana do mês. No Espaço Sérgio Porto [Rua Humaitá, 163 / fundos – 2535 3846]. Sob a coordenação do poeta Chacal, poesia, música, cinema e muito mais. Só vendo, indo, vivendo. O FARANI CINCO TRES também está por lá!

- FARANIS livros!
#JOSE HENRIQUE CALAZANS relançou seu livro, em versão ampliada - com poemas novos: QUEM VAI LER ESSA MERDA? no Sarará, o sarau, que acontece no Spa Cultural PAz, no Catete, dia 12 de outubro - das crianças!
#ALICE SOUTO lançou seu fanzine POESIA AUTO-SUSTENTÁVEL, em versão bilingue, na FLIP2012 em Paraty.
#
FELIZPE FRUTOSE lançou seu FRUTA AFRODISIACA (amostra grátis) no dia 23 de março de 2012! lançamento virtual já com mais de 500 visualizações! PARABÉNS, FELIZPE! Para ler, CLIQue aQui!
#SILVIA CASTRO lançou o seu PRIMEIRO, em dezembro de 2011, também online. Quer ler? CliQue AQui!
#CESAR GOMES
lançou também o seu Livro 22, em novembro de 2011, que pode ser lido AQui!
#ANA SCHLIMOVICH também lançou o seu ANAFENIX, em dezembro de 2011! poemas e fotos de las anas: AqUi!


terça-feira, 31 de maio de 2011

VIVA A LÍNGUA BRASILEIRA

LÍNGUA À BRASILEIRA

Luis Turiba

Ó órgão vernacular alongado

Hábil áspero ponteado

Móvel Nobel ágil tátil

Amálgama lusa malvada

Degusta deglute deflora

Mas qual flora antropofágica

Salva a pátria mal amada



Língua-de-trapo Língua solta

Língua ferina Língua douta

Língua cheia de saliva

Saravá Língua-de-fogo e fósforo

Viva & declinativa

Língua fônica apócrifa

Lusófona & arcaica

Crioula iorubáica



Língua-de-sogra Língua provecta

Língua morta & ressurecta

Língua tonal e viperina

Palmo de neolatina

Poema em linha reta

Lusíadas no fim do túnel

Caetano não fica mudo

Nem "Seo" Manoel lá da esquina



Por ti Guesa Errante, afro-gueixa

O mar se abre o sol se deita

Por Mários de Sagarana

Por magos de Saramago

Viva os lábios!

Viva os livros!

Dos Rosas Campos & Netos

Os léxicos, Andrades, os êxtases

Toda a síntese da sintaxe

Dos erros milionários

Desses malandros otários

Descartáveis, de gorjetas.



Língua afiada a Machado

Afinal, cabeça afeita

Desafinada índia-preta

Por cruzas mil linguageiras

A coisa mais Língua que existe

É o beijos da impureza

Desta Língua que adeja

Toda a brisa brasileira

Por mim,
Tupi,

Por tu Guesa

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Exórdio

  A  Terra
  era sem forma e rubra
  havia  um céu de pássaros de fogo
  e tudo era acintoso  Silêncio____
  ouvido algum jamais  pusera ali
  música de seus martelos e conchas .
  Haviam três pares  de olhos
  pairando sobre essas " águas " ,
  recém - chegados  no  Tempo .

  Depois um pôr-do-sol nascituro
  era  Nijinski   nos primeiros olhos assombrados
  sopro dos  Três  Primeiros
  além do Azul que a vista amarfanhava_______

  Foi num momento , e salto  gigantesco :
  Agora  erguera  o barro  para  a Eternidade .

Jacarepaguá

O barão da Taquara era tãããão grande
que ainda hoje tem gente chegando
na terra dele.

Foi isso: Nas antiguanças eram os índios
que moravam nela,
achavam grandes os jacarés
mas os jantavam assim mesmo.

Depois vieram os portugueses
e jantaram os índios,
ainda usaram os jacarés
pra palitar os dentes.

Depois depois de uns bons  balalões
veio por fim "seu" barão:
Com bigodeira barbanças
medalhas do Paraguai
e virou mini-donatário_______
O criouléu nunca mais
atravessou o Samba.

Os jacarés ?  Fizeram as malas ,
foram pra Barra , Recreio :
viraram gente , têm sido vistos nos shoppings,
tomando sol nos jardináceos bacanas. JacareMor ,
jacarenorme , jacaré
paguááááá ......

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Exercício tema tempo (só pra não ficar na encolha)


Piolhos — Uma jornada


18:00 h


Dois terços do dia.

Até agora ele é bipolar

E alguma notícia falta


00:40 h/m


Três terços do dia

notícia chegou

nenhuma boa


nem uma pulga atrás da orelha

pareço mesmo estar com piolhos


mas refletindo sou levada a crer

que uma pessoa que anda bem acompanhada como eu

não deveria ter piolhos assim


9:15 h/m


Acordo atrasada pro primeiro terço do dia.


Muitos piolhos.

Converso com eles

Ainda que tentando me convencer de que eles não são de verdade


Um amigo me oferece um pente fino

Mas não me garante nada


13:40 h/m


Chego à conclusão de que não é mesmo possível levar esses piolhos tão a sério

Assim, decido comprar um shampoo desses que acabam com eles


Amanhã outro amigo receberá um telefonema quando eu estiver mais calma

e decidida a não me descabelar


15:15 h/m


Já tranqüila com os meus piolhos imaginários

e sabendo que vou tratar de dar um jeito neles de qualquer maneira

desisto de conversar com os bichinhos


mas permaneço

ainda que finja que não

incomodada com certas verdades impossíveis que eles me contam


17:10 h/m


Quase dois terços do dia

Até agora ocupada dos piolhos contraídos na noite anterior


Já cansada de pensar neles

imagino o que será do próximo terço


e tenho medo do desejo que brota

(ainda que lá no íntimo)

de obter notícias denovo


18:00 h (ou 24 horas depois)


Mas o tédio.


Dotado dessa espécie de arrogância

deseja sempre afoito

mais do que ele mesmo pode suportar.


27 de maio

crazy people, ralou,

estou gostando dessas zil formas de se falar. mundo besta e digital. realmente, turiba, foi um presente e tanto, o farani no cep. rolou redondo. o método zé arigó mais uma vez funcionou. mas parece q ele só dá certo na estréia. depois tem mesmo é que ralar. gostei tb do encontro na quinta. q a lúcia, essa garota exemp-lar, já colocou aí na tela. fizemos breve avaliação. o thadeu deu boas opiniões. falou q melhor seria, se fosse apenas um tema. fizemos um pouco do "tempo", mas depois diversificou. para fazer assim, seria melhor um cabaré com cada um, inventando uma e a música e a luz costurando. podemos fazer mais adiante.
agora acho melhor fechar num tema. vamos lembrar q as duas coisas devem andar juntas: poesia e performance. pegamos o gosto da performance. mas a poesia tem prioridade.
semana q vem começamos o módulo "olhar" ou "fotografar". voltamos ao "poema kodak", q gerou ótimos poemas, e vamos potencializá-lo. a idéia é trabalhar como uma câmera trabalha, com closes, planos médios, planos gerais. edições fragmentadas e planos sequência. montar o poema como um roteiro de filme. vamos expereimentar isso. vou praticar tb. a idéia parece boa. vamos ver na prática. a base é aquela q fizemos: descrição de um ambiente, de um exterior, de um rosto, de uma praça. e ir montando. o resultado pode ser um poema um pouco maior. mas ainda assim sintético (cortar palavras desnecessárias !). voltem a dar férias para aquele intrometido "eu". olhar e fotografar. e concluir com 1 surpresa.
os posts podem começar a pipocar na segunda. um dia bom para avaliar (malgrado o pagodew na pedro américo). mas eventualmente, pode vir depois. legal tb imprimir e levar p/ ler na aula e me entregar.
temos alguns convites. mas vamos fortalecer o grupo e a lira. amanhã não sei se vou. tenho vontade, mas vou resolver na hora. estou muito feliz com o que temos feito. vamos em frente. acho legal ter um segundo encontro no sábado de 15 às 17 hs na lúcia, no catete.
vamos em frente. bjos, ch.

TumbaTOMBATempo

Tumba tempo tumba tempo tumba tempo tumba tempo retumba o tempo
t o a d o r
e
m
p
o
a tumba e o tempo é o tombo e toma-nos, sim, tomba-nos na tumba o tempo
tempo
e
m
p
Retumba o tempo - c a ç o a d o r o tempo, não é? - o tempo o tempo
e a tumba, sim, a tumba que nos tom
b
a
o branco sob o texto
na tumba do tempo

t
t
t
t
t
t
(p) (t) (b) (z)
(o) (u)
m
b
a
.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Fracassado

O meu medidor
(de sucesso)
Está se apagando

Agora são poucos
Os pontos-de-luz-branca
Da máquina
Que mostra a quantidade
De pessoas
Que pensam em mim
Nesse exato momento

Faz tempo
Que não canto
Em programas
De televisão
E o meu último sucesso
Foi há dez anos

É o mesmo tempo
Que não saio
Dessa ilha-deserta
(onde nunca amanhece)

Sol não há
Só a querida, maldita
Senhorita-Escuridão
Ela é minha única companhia
É a minha platéia

Se o meu medidor
(de sucesso)
Apagar de vez
E a minha amante lua
Nunca mais brilhar
Terei que me casar
Oficialmente
Com a Senhorita-Escuridão

“- Escuridão
me aceite
como o seu legítimo-esposo
seja a minha senhora
prometo estar contigo
até o dia
em que nascerei de novo
e verei novamente a luz
da sala-de-parto
de uma maternidade qualquer.”

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Chararrimada carioca

O que é o que é?

"Até mais verde, amarelo!"
Suas cores são desbotadas.
O cinza encobre os olhares
nas sem-mil casas descascadas.

Tem fábricas, muitos barracos,
ferro velho e gente amontoada
nos coletivos, em automóveis
que lhe servem de alguma fachada.

Tem ambulantes que vendem cuscuz
docinho e suado ao leite condensado.
O coco é ralado, o pão é duro,
o milagre será de Jesus.

É via expressa e ´vagar nos conduz.
Descortina Campo Grande,
tem nuvens de poeira branda
em a-fluxo a Santa Cruz.

Vista à contraluz, rima com anil.
É a __________________________.

terça-feira, 24 de maio de 2011

tem pum pam

O tempo passou
e eu não fiz nada
como me agonia
ficar parada

Troquei letras por fotos
e sem querer perdi o foco
o embalo da caneta
ficou na sala dos poetas

Me desculpem meus colegas
pelas tarefas incompletas
de tanto pensar no tempo
ele passou por mim

E eu nem vi
só senti
um tem pum pam
e depois cai

bic

fujo do deserto,
onde as tempestades noturnas chegam em silêncio,
e castigam sem piedade.

fugindo,
pensei vestir em cada dedo um anel,
e coberta,
vasculhar cortes e carícias,
tatuados no papel.

meu papel,
seu papel
que meu
que seu
que nossos

minóico labirinto
de muitas janelas
de maio.

Byke-poema

p/ ricardo, o chacal

Lá vai o poeta de bicicleta
levando a vida na flauta
na poesia e na ribalta

Lá vai o poeta sem meias
palavras brincando
de verdades inteiras
pela vida afora
noves fora tudo

Lá vai o poeta com sua touca
que não dorme
não dá bobeira
nem sossega
nem se cega
só se sente
e assim se solta
salpicando poesia
a sua volta.

Exercício de Tempo e Luz (e resgatado da gaveta)


A luz que eu sei fazer


Quando o tempo é assim aqui

e você aí vai sem desconfiar,

é um alívio pensar que alguém nem mesmo suspeita

do quanto ao meu redor pode ser essa tamanha confusão,

que nem ocasião de disfarçar pra você


É quando você aí tranqüilo, vai contando os dias

sabendo que na hora em que eu aparecer

vou ter pelo menos um sorriso arrumado

e alguma alegria

pra te entregar


— eu fiquei muito mais pesada com esse tempo

e essa parte eu não quero te contar


Será que você desconfia de que peso é esse?

Que dor é essa que dá?

Que de tão antiga mais parece um incômodo mau humorado?

Eu disfarço

Te ponho pra rir

E me tranqüilizo na delicadeza que é olhar pra você


Mas parece que eu escondo um segredo,

quando você olha nos meus olhos e eu sou tão feliz...

E eu não sei mais se o segredo é o colorido que eu quero te mostrar

ou a escuridão que eu jamais quero que você conheça


Não posso te pedir pra me salvar

Eu bem sei

Como sei que você precisava era de alguém

que iluminasse as suas noites

sem atrapalhar seu sono


E eu bagunço os seus lençóis

porque eu não sei mais nada

pra fazer


Então me deixe bagunçar os seus lençóis

Apertar as mãos e os olhos

Me deixe anunciar que estou aqui

É a luz que eu sei fazer


Me deixe enroscar seus travesseiros

E levar seu cheiro comigo, pra essa casa nova comigo

Enfeitando os meus olhos no apagar das lâmpadas

É a luz que eu sei fazer


Então me deixe carregar seus olhos comigo:

Pois se de olhos dados com suas mãos

Não importa onde

Não importa longe

Eu tenho luz pra você


Você

me deixe acender

Me deixe a luz que eu sei fazer

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Na caixa de costura faltam agulhas,
fagulhas de estrelas no pensamento.
sentados na varanda junto do jasmim e da arruda,
cheiros e ventos espalham pela casa toda
deliciosas conversas tolas.

Glória, glória, Glória

Pão pão pão
Tá fresquinho?
Vem cá, menina, olha o carro!!!
Rua Cândido Mendes
cerveja geladinha escorrendo pela goela na esquina
Vila Rica
ê!! Não viu o sinal?!
Tapíoca, couve, cheiro verde, maçã
Moça bonita não paga!
ô feira falsa!

Meditação

a grama macia,
o olhar além do Pão de Açucar
melado
encontra a nuvem e cai em chuva na face
paralisada do gozo de ser
naquela tarde úmida controlada por buzinas e freadas
em plena praça Paris
antes do anoitecer.

Rua da aridez

Olhos de andaime,

Pupilas de luva,

Jugular de cimento,

Um salto em alto equilíbrio,

Coração descompassado,

A lua no caroço,

As mãos são cegas,

Mundo, imperfeita bola.

No umbigo torto do universo

Suspenso por silhuetas de nuvens

Como as asas que só existem nos mapas,

Como um relâmpago se faiscasse,

Como dois sóis estilhaçando, um por de trás do outro.

Dois sóis perdidos na mais pura geometria das tardes.

sábado, 21 de maio de 2011

2036

         Amigo ! Irmão !
         Vou te acender  os luzeiros
         do  fim do  Mundo : Novas  que chegam
         pelas  asas dos pássaros ,
         na  espuma dos oceanos .

         História  em festa  sorri :
         Vai sacudir  os armários
         onde eram tantos  os mortos ,
         no céu rosado  três aves
         levam nos bicos  relógios ,
         perto do sol perdem as asas
         se transformando em trombetas
         que o vento  assopra sobre o deserto
         onde  a mulher  se esconde ,
         guardando  vestes de festa
         e  muitos filhos  do Hóspede______

        Então sementes de piano  Verdecerão ,
        a  Virgem  trará  de novo a poesia
        aos  homens  Reconstruídos .
.

Missa Breve

           A  tarde  inclina  seus ombros
           outubros  postos
           no  chão : conto  as cigarras  das árvores ,
           faltam  várias  ao trabalho .
           No  céu  nuvens grossas , rombudas____
           sabendo  a  trombones  gordos .

           Uns  urubus   canhambora
           andam   cortando  as horas  temporãs ,
           na  boca  andaimes , paredes_______
           todo  um  Resto
           atrapalhando  a semana :

          Nos campos  homens  de bronze
          semeiam  torres  de petróleo ,
          engolem  trinta  camelos .

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Trava-palavra I: nenhuma coisa toda

Coisas, Corpo
imagens de coisas, Oceano
palavras às coisas, Iguana
de verdades pra coisas Salsinha
a opiniões sobre coisas, Abc
tudo em parte nas coisas .
de coisas que são achadas - Tititi
coisas tão perdidas... Oxalá
dentre as coisas nas coisas Dicionário
de coisa nenhuma que fica. Avião
Que coisa, não? .

Ave. em foco

3x4

Sol grau 40 ´´radia 4000 corpos de sede.

Cores. Rio Branco de doutores, secretários, gravatas

sapatos, apertos, carros, sufocos, bancos, couros, buracos,

valetes, valises, valores, varões, varetas, vagabundos

(vrummmm), "um real aí, tio!", "perdeu, HA!" -,

um menos, uns mais, mais... mais... mais...

sem-sombras de dúvida n´encontro coletivo.


ZOOM

Um Órador próximo a um andarilho próximo

a uma barraca de artesanato trata palavras, clamando:

- (...) levanta e salva-te, antes que tarde!


Responde o andarilho (mulambento perdido):

- Deus é mó viaaaaaaaaaaaaaaaaagem, aí!

PrOpRieDAdE PeNSaMeNTO

As coisas
e seus latifundios.

Desafia-se o tempo,

Kilometros... em um minuto

O ano passado...alguns metros quadrados.

Rai Cai!

A dor
é o sêlo

das cartas vazias.

A minha hora

É o despertador?
Não pode ser
Ele está parado.
Não marca a hora
Que horas são?
Quem me acorda?

Oi!
Nossa-Senhora-da-Morte
A minha hora já chegou?
Mas a minha filha ora
Pra senhora
Não vir me visitar!
Agora?
Tem que ser agora?

Me dê mais um tempo!
Espere um minuto
Que já te cumprimento
Deixe eu declamar
O meu último poema!

Ah
Não pode esperar?
O meu tempo
Já esgotou?

Oh!
Nossa-Sem-Hora-Pra-Chegar
A última vez que nos vimos
Eu era um
Relojoeiro-suíço
E só vinte anos
Eu tinha

Desta vez
A Senhora só voltou
Depois das minhas
Cinqüenta primaveras
Vividas.

Curta Elegia

          Evém  mundéu  Curimã
          que  a mão lambaia
          Bahia :
          Os sete erês  cardeais
          marcando  as horas  Parecis
          e meus serões  Desenredo ... Jussaras  Pós .
          Nazarés . Mandingas
          malvas   malsãs
          xerém  no arroto   do  Instante : céu  de quases
          me  Existe
          antifonária  araci ,
          meus  desenredos - Homem .

Soneto Inglês N . 1

    Então  renascerei  das cinzas ,
    címbalo espelho  Eterno .
    Pendida  a máquina do braço ,
    meninos os homens  todos .

    Formas  futuras sonham
    no fundo de corpos - Mares_____
    cio  dança as marés ,
    mulheres - Alga .

   Acima de  esferas  virgens
   deixo os contornos  do  Tempo .
   Serei  terraços  no mundo
   andante , de sete léguas

   Depois  trombetas  e sóis
   farão  remanso - Amanhã .

hospital.

como não bastasse o frio
a agulha e a dor
existe o retorno
e a solidão
por que se curar
se o melhor seria
partir?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

#trends








Calandre Black Out

A lua do meio dia
iluminava o quarto

Abriram-se as cortinas,
senhoras da noite sem fim.

O fio do tempo
no traço do delineador.

No espelho
corpo inteiro.
Meia calça,
chemisier.

No ar, o perfume, era o ultimo sinal.

toc... toc toc..toc
os saltos..
ultrapassando
o tapete,
abandonavam com cadência
meu palco de menina.

Melopéia Kodac no 1

Sina em 1983


Vem não vem?

Vou não vou?

Coração desejo e sina:

Vai.

Recai caetano caetaneando no palco

tudo mais pura rotina

Saradinho, rebolandinho

dá um cheirinho no amigo:

Tocarei seu nome pra poder falar de amor

Depois do Veloso dar um alô de revés

para um músico da vez de trás;

depois de Djavan djavanendo devaneios

Art Nuveau da natureza;

O baiano dá um abano baianeante

para alguém de fora da banda

enquanto o alagoano ali é puro alumbramento

Jazz

Sorrisos dançam sem siso

A luz do grande prazer é irremediável néon

Tocam gostosas as gargantas,

e seus gogós galantes garantem

o grito de prazer

que irá

açoitar o ar.

Então Gil na platéia, achando a sua graça, gilberta em aplausos —

Tudo é festa:

Reveillon!



As cores e o instante

Meu tema é o instante?
Talvez eu nunca tenha te dito
que escureço em música.

Ao escrever não posso me fabricar
como em uma pintura,
assim como se fabrica uma cor.
A desarmonia secreta das cores
são o luxo do meu silêncio;
e assim eu silencio,
de um modo que minha própria palavra
me contradiz.

Procuro a palavra última que,
assim como o primeiro passo,
é o último em direção ao intangível do real.

E se às vezes eu pinto palavras em cavernas
é para que elas se tornem a história do mundo.

Mas o instante acende e apaga,
como versos que surgem sem esforço
e sem motivo.

Nesta nova era das minhas palavras,
o que falo é todo o meu invento
concentrado em uma única confidência:

um astro que nomeia
a única forma de quantificar
tudo aquilo que é sentir
sem possuir.

Saudade

Toc Toc Toc
Cadê você?
Toc Toc Toc
O tempo levou...

Tatoo

O Tempo
Ceifa
O passar
Das horas

Travinha

Atirei limão maduro
Na janela do meu bem
Passou boi, passou boiada
Por que é que ele não vem?

terça-feira, 17 de maio de 2011

De passagem

Chego rápido
e estou
Sou intensa
cometa
que passa
mais fica
Não gosto
mas sou
Nada posso fazer
Quando vi
já fui...

Toada

Tempo
Tua boca, minha língua

Tempo
Meu ventre, tua coisa

Tempo
O Vôo solitário no entre

Tempo
O caminho livre por sobre os pelos

Tempo
Todo tempo do mundo

p

i

n

g

a

rumba

O ronco

da rumba

ouço daqui

do meu umbral



bumba meu rum!



me afundo

imunda

dos ombros aos quadris

no seu jiral

sábado, 14 de maio de 2011

Liberdade, Liberdade...

Ei você
Que me salivou sílabas!

Você me julgou
A primeira de sa-fa-do
Ou
A primeira de san-to?

Não importa agora!

Pois o certo
É a sílaba
Sol!

De sol-ta o som DJ!
É...
Soul
(Musica americana)

Eu to sol-to!!!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

o tempo

é curto para viver
longo para doer
não passa para esperar
voa para chegar
se muito faz esquecer
se pouco faz reviver
tempo é coisa esquisita
não se pega, não se sente,
não se olha, não se dita,
não se come, não se bebe,
[nem se coloca dentro
de uma caixinha
para ouvir ou ver depois]
está e não está
vem e vai
não tem tamanho nem medida
dizem que são horas, minutos e segundos
ou anos-luz, dimensão
mas todo mundo sabe que não
ninguem segura o tempo com a mão.

tempo tempo contratempo

[compassado como um relógio]
tic-tac,
tic-tac,
tic-tac,
tic-tac,
tic-tac,
tic-tac, ...
[rápido]
tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac,
tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, ...
[mais rápido como um pandeiro]
tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac,
tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac,
[em um tempo]
tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic-tic
BOOM!

fala

fala, palavra
ou cala
fala na minha cara
fala, palavra rara
fala a palavra
só fala
nao escreve
fala só
ouve a palavra
que vem
e só vem
da fala que
cala e consente
e se nao consente
nao cala mas fala
que grita que geme
que brada que nao diz nada
que quer dizer tudo
mas tudo é muito
e muito é demais
da conta de todo mundo
da propria conta
que faz de conta que nada aconteceu
que nada foi dito ou ouvido
e fica por isso mesmo
mesmo que tudo isso
seja quase nada
de tudo que se queria dizer
e sendo querido já foi dito
mesmo sem fala e sem escrito
num grito.

ou

fala, palavra
ou cala
fala na minha cara
fala, palavra rara
fala a palavra
só fala
nao escreve
fala só
ouve a palavra
que vem
e só vem
da fala que
cala e consente
e se nao consente
nao cala
mas fala

criação

às vezes nada indica que algo deva ser dito
e o silencio soa tão alto que enche os espaços
as lacunas e os hiatos
os abismos e as distâncias
as frestas e os soluços
e sopra sobre os nós
e desfaz os enredos
e trama a renda
e borda o bilro
e tece o texto
e deita na rede
para descansar...

ARTIGO/REFLEXÃO SOBRE O FAZER POÉTICO E NOSSA OFICINA

Fragmentos de Sol nas bancas de revistas

Luis Turiba, de Pirenópolis, Goiás, onde participo da 3ª Flipiri

Às vezes,o jornal/revista está chato, velhaco e casmurro de notícias, mas rico em comentários e pensamentos culturais, literários e poéticos. Foi o caso de O Globo deste último sábado (7/05). E não por que foi dia de “Prosa & Verso”, que tinha riquíssima matéria sobre “Jornalismo narrativo e repórteres sem fronteiras” e uma resenha sobre o livro-antologia do poeta paulistano Régis Bonvicino, editado pela Imprensa Oficial com 564 páginas, um calhamaço.

Muito bacana o artigo da professora Marília Librandi-Rocha sobre “A terceira margem” da linguagem e suas pequenas jangadas soltas à deriva no mar bravo da produção. Deliciei-me principalmente com uma declaração atribuída a Alcir Pécora: “quando se trata de literatura, os mortos estão todos em atuação e suas obras controlam os leitores de hoje melhor do que os vivos”. Primor!

Na capa do “Segundo”, o cineasta Julinho Bressane clamava: “Não me enterrem vivo”. E por falar em enterrar vivo, outro cineasta, Cacá Diegues, acertou a mão ao dar vida à obra de Jorge Amado na página de “Opinião”. Ele escreveu: “o trabalho literário é antes de tudo um trabalho de linguagem. A linguagem, porém, não é essência nem ornamento, mas moeda de troca entre o autor e seu leitor, entre o autor e o mundo.”

Lá pelas tintas nem tão tontas assim, Cacá relembra que os concretistas (na verdade, o poeta barroco-concreto Haroldo de Campos, no final do século passado), hasteou o romance “A morte e a morte de Quincas Berro d´Água” aotopo da literatura brasileira.

“Recebi a notícia como uma vitória pessoal de seus leitores”, escreveu o cineasta. Ao fechar seu artigo, ele vai de encontro ao autor de “Galáxias”. “Jorge Amado é o nosso clássico por excelência e assim será até que o Brasil tome jeito e siga o espírito de suas tramas. Ou o exemplo de seus personagens.” Calma, Cacá: Jorge é Jorge por que respingou de luzes seus romances com a mestiça alma (da) brasileira.

Todos esses fragmentos de citações totalmente fora de seus (con)textos(,)estão a serviço do poético que pode haver no jornal diário. São pequenos carimbos no passaporte de um caçador de linguagens. Assim como "O Sol nas bancas de revistas" e/ou o romance baiano-planetário, a poesia também necessita estar impregnada com o sabor, suor e sal da terceira margem criada por Guimarães Rosa.

Interessante é que todas essas coisas vem sendo conversadas na oficina “Farani Cinco Três” que o poeta Chacal está flamando na Biblioteca de Botafogo, Rio. Sou um dos participantes do labor do velho mestre da linguagem carioca. Ao conhecer tête-à-tête os fundamentos do autor de "Quampérius" e conviver com uma rapaziada que começa a escrever versos na Idade Midia, renovo também meu repertório e meu manancial de linguagens. Ou pelo menos, tento.

“O texto é apenas um dos elementos do poema.” Esse fundamento Chacal traz lá das raízes, do tempo emque a Nuvem era Cigana. Performatizar o poema, sacudi-lo no vazio do oco até torná-lo um tornado verbal. Cada poema, um inutensílio. Utilizar sem medo de errar o corpo, a voz, a luz, a água, o fogo para embelezar e dar perfume às palavras. Todo cuidado com a emoção que pode tirar a poesia do poema. Assim, extermine o ego que há no seu texto, surrando-o contra a parede como recomenda Manoel de Barros.

Na oficina, Chacal tem utilizado princípios de Ezra Pound expostos no “ABC da Literatura”: fanopéia (projetar o objeto na imaginação visual, que Chacal chamou oswaldianamente de “Poema Kodak”); melopéia (produzir correlações emocionais por intermédio do som e do ritmo da fala); e logopéia (produzir ambos os efeitos estimulando as associações (intelectuais ou emocionais) que permaneceram na consciência do receptor em relação às palavras ou grupos de palavras efetivamente empregados). Para Pound, “a incompetência se manifesta no uso de palavras demasiadas.” Essa máxima, ele também usa ao comentar poemas que falam demais.

No fundo, Chacal tenta fundar (se já não fundou) um novo princípio não (tão) pensado por Pound, mas desenvolvido nos palcos, praças e lonas por onde a Poesia Marginal fincou raízes. Algo como “performalopéia”, onde palavras, gestual, imagens, sons, mídias cibernéticas, lances teatrais venham se fundir às frases e rimas e aliterações para uma melhor interação do público. Algo que Octávio Paz, outro formulador do texto poético, batizou de “Os signos da rotação” em “O Arco e a Lira.” Não tem escapatória, a poesia deve estar sempre viva, mesmo que esteja morta.

Incorporar ao poema o próprio corpo (e porquenão todos os copos?). Esse foi e ainda é o sonho programático do aprontador de linguagens. Isso fica claro no livro “Uma história à margem”, onde Chacal conta com humor e detalhes as peripécias de um poeta em busca da poesia.

Seu primeiro poema dito: "As imagens do audiovisual eram os retratos desses "caciques" (de Ramos) com o som da bateria do bloco. Aquilo começou a zabumbar na minha cabeça, já tomada pelo Alert Limão, uma mistura secreta e inflamável que deixava tudo em estado de nuvem. (...) O ambiente escurinho para a exibição era favorável. Não tive dúvida. No transe do momento, sem avisar a ninguém, falei para o Bernandro Vilhena que operava o projetor: "vou entrar. Vou entrar. Vou entrar". E entrou na roda falando "Papo de Índio".

Chacal havia assistido a uma performance de Allen Ginsberg, em Londres, que o marcou para sempre. "Como não sabia muito inglês, prestei mais atenção na gloriosa performance. Pensei: se um dia eu falasse poesia ao vivo, teria que ser com aquela dicção." É essa dicção que ele tenta passar em suas oficinas.

É tudo isso que continua brilhando em nossas bancas de revistas. Fragmentos, fragmentos, fragmentos, ainda do tempo do Modernismo. De palavras, de sons, de pensamentos, de ações que erguem uma linguagem cujos signos cibernéticos estão em altasrotações. E de repente (não mais que de repente) nascem desses meninos e meninas recém-saídos da adolescência versos que assombram como osda poeta que deixou a sílaba cair como um pesado dicionário. Ou outra que acabou despalavrando-se do poema.

Exílio

Vê só,
que esta
espera
inda há-de
salgar
nossa terra.

viração

rede vaga
em movimento.

morno sopro
sopra vento.

faca cega,
peixe morto.

revirada
sem lamento.

(melhor que navalha)

se tive
em ponta
de língua,
calo
em língua
de lança:
palavra

corta

quarta-feira, 11 de maio de 2011

pe(r)didos

Pede-se:
Despedaça-te
 
mede-se
porque despede-se
 
paz será se
dissipar-se
 
desejar um par que
se dispa 
lavre-se
e fim
rroon
era o gato
fiiiuuuu
com um apito

rroon rroon
era o motor
fiu! fiuu!
era o motorista

rroooon fiiiuuu...
era o ronco

rrooooaAAahhhrrr
do monstro

shhhhh...!
na barriga da vovó

querendo

Aquilo que quer
costuma ser tanto
quando o querer
esta distante
Experimente querer
o que tem!
Quantidade
nem sempre qualifica
aquiete no querer
queira ser
canse um pouco de ter!
Quem disse
o contrário
quer ser sabido
quando é só...
Coitado


terça-feira, 10 de maio de 2011

Kodac (para performance)

Ensaio pra lua

para Henri Mancini

Bochechas estufadas

Moon

Dedos nas chaves

river

Olhos apertados

wider

Boca amassada no metal

then a mile

Respiração concentrada

I’m crossing you in style

Mas não importa o quanto repita

I’m crossing you in style

Hoje a música não afina

someday

encontro

caco, cuia
quebranto
cof cof

credo

cálice colorido
encruzilhada, creio.

cruzes!

A I R E S

Escotilha voadora
cerrada por uma cortina.

Milhões de lâmpadas no chão.

Além do alvo
é leve o pouso.

Sala imensa
Hangar do voo.

Céu de prata
nuvem de lata.

Iglú da lulu

Gálapo

Goma Arábica,

Calcedônia.

Calentura

Calcinha

Calcanhar.

quero mais

relou puelvo de mi tierra,
cadê os barulhinhos ?
mantras, choques de palavras, crash.
se tiver ruim de sair,
insistam nos poemas kodak simplesmente.
câmera olho. cinema. closes, planos médios e gerais.
corte, edição.
não percam o embalo. palavras p/ q te quero.
joguem no blog. experimentar compartilhar.

um travinha:

pedra tem pé
pobre tem pó
pobre da pedra
com pé no pó

 

Zé Mané

O azar é todo seu
Se vc não se embola, não se embala, não se esfrega, não se entrega, não se apega, não me fala, não me cala.

Não sobe
Não desce


O azar é todo seu

Não toca tuba no jardim, não manda flores, não me acena pra dançar
Não me puxa, não me enlaça,
Nem letra, nem canção, nada

NADAnadanadandaandaandaandaANDA

Ainda bem
que eu nem gosto de vc

Pq se vc viesse
Se vc viesse
Bom, se vc viesse
Eu
Eu
Eu dançava um samba rasgado só pra vc

"Eufaçosambaeamoratémaistarde..."

Mas vc não vem
Vc é burro, né, Seu Zé Mané?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

melopéia selvagem

ouvi o alvo

seio sem osso

despedaçar-se e ouço

ainda o uivo



malévolo do lobo

que o rasgou

e rasgará ou

tros no lodo



pois eu sou

o ouvido vi

vo daqui

lo que sôo
(arnaldo antunes)

esse poema canta o tempo todo.
através de rimas, aliterações.
é quase um caso de música sem letra.
mas as imagens também são fortes, de impacto.
melomelofanopéia.

quinta 12, invadiremos o palco. músicos a postos. levem lanternas.
e um texto decorado. e vamos nestra.

meus tels: 2259 0670 / 9363 8070
ricardo.chacal@gmail.com

domingo, 8 de maio de 2011

leiam com interesse.
não vai cair na prova. mas pode ser útil.
se quiserem fazer uma quadra misturando
versos de rima soante e rima toante
pode ser útil. leiam os poemas em voz alta
e percebam as diferenças com o ouvido.
e não esqueçam que não só de rima vive o verso melódico.

A RIMA (celso cunha)

1 – lendo essa quadrinha popular:

tanto limão, tanta lima,
tanta silva, tanta amora,
tanta menina bonita...
meu pai sem ter uma nora!

Verificamos que:
A – o 1º e o 3º verso apresentam uma identidade de vogais a partir da última vogal tônica: i-a (lima/bonita);
B – o 2º e o 4º verso apresentam uma correspondência de sons finais ainda mais perfeita, pois, a partir da última vogal tônica, se igualam todos os fonemas (vogais e consoantes): -ora (amora-nora).

2 – esta identidade ou semelhança de sons em lugares determinados dos versos é o que se chama RIMA. Se a correspondência de sons é completa, a RIMA diz SOANTE, CONSOANTE ou simplesmente CONSONÂNCIA. Se há conformidade apenas da vogal tônica ou das vogais a partir da tônica, a RIMA denomina-se TOANTE, ASSONANTE, ou simplemente ASSONÂNCIA (João Cabral)

1 - IMITAÇÃO DA ÁGUA



De flanco sobre o lençol,

paisagem já tão marinha,

a uma onda deitada,

na praia, te parecias.



Uma onda que parava

ou melhor: que se continha;

que contivesse um momento

seu rumor de folhas líquidas.



Uma onda que parava

naquela hora precisa

em que a pálpebra da onda

cai sobre a própria pupila.



Uma onda que parara

ao dobrar-se, interrompida,

que imóvel se interrompesse

no alto de sua crista



e se fizesse montanha

(por horizontal e fixa)

mas que ao se fazer montanha

continuasse água ainda.



Uma onda que guardasse

na praia cama, finita,

a natureza sem fim

do mar de que participa,



e em sua imobilidade

que precária se adivinha,

o dom de se derramar

que as águas faz femininas



mais o clima de águas fundas

a intimidade sombria

e certo abraçar completo

que dos líquidos copias.

(João Cabral de Melo Neto – QUADERNA- 56/59)




A RIMA E O ACENTO



Quanto à posição do acento tônico, as RIMAS, como as palavras, podem ser:



A agudas: (oxítonas)

Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomAR,

Que nos céus os anjos regam com luAR...

(Guerra Junqueiro)



B – graves: (paroxítonas)

Trago-te flores, restos arrancados

Da terra que nos viu passar unidos

E ora mortos nos deixa separados



C – esdrúxulas : (proparoxítonas)

No ar lento fumam gomas aromáticas

Brilham as navetas, brilham as dalmáticas



As rimas agudas são também chamadas RIMAS MASCULINAS

As rimas graves, RIMAS FEMININAS



RIMA PERFEITA e RIMA IMPERFEITA


1 - A rima é uma coincidência de sons, não de letras. Por exemplo, há RIMA SOANTE PERFEITA

nestes versos de Alphonsus Guimaraens:



céu puro que o Sol trouxe

claro de norte a sul,

o teu olhar é doce,

negro assim, qual se fosse

inteiramente azul



tanto entre sul e azul, como entre as formas trouxe, doce e fosse, que apresentam a mesma terminação grafada de três maneiras diferentes.





2 – perfeita é também a rima de tem com mãe nesses versos do poeta português Fernando Pessoa:

Tão jovem! Que jovem era!

(agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

“O menino da sua mãe”.



Porque no falar lisboeta estas palavras soam iguais.



3 – Mas nem sempre há identidade absoluta entre os sons dispostos em rima, quer soante, quer toante. Algumas discordâncias tem sido mesmo largamente toleradas através dos tempos. Entre os casos de RIMA IMPERFEITA consagradas pelo uso, cabe mencionar:



a – o das vogais acentuadas E e O semi abertas como semi fechadas, prática inciada por Gil Vicente, no século XVI, e adotada desde então pelos poetas da língua:



quem disse à estrela do caminho

que ela há de seguir no céu?

A fabricar o seu ninho

Como é que a ave aprendeu?



(Almeida Garret)



...............................................



RIMA POBRE e RIMA RICA





1 – consideram-se POBRES as rimas soantes feitas com terminações muito correntes no idioma, principalmente as de palavras da mesma classe gramatical. É o caso, por exemplo de infinitos em –ar, dos particípios em –ado, dos gerúndios em –ando, dos dimnutivos em –inho, dos advérbios em –mente, dos adjetivos em –ante, dos substantivos em –ão e –eza, das palavras primitivas com os seus derivados por prefixação: amor-desamor, ver-rever, etc.



2 – são RICAS as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diversa ou de rimas pouco frequentes,

como nesses versos de Alphonsus de Guimaraens:



o teu olhar, senhora, é a estrela da alva

que entre alfombras de nuvens irradia:

salmo de amor, canto de alívio, e salva

de palmas a saudar a luz do dia...



alguns metricistas preferem reservar a qualificação RICAS para as rimas com consoante de apoio, do tipo dia-irradia.



3 – denominam-se RARAS ou PRECIOSAS as rimas excepcionais, difíceis de encontrar. Foram procuradas sobretudo pelos poetas parnasianos e simbolistas. Veja-se, por exemplo, esta rima de ditirambos com flambos, que aparece nos Helenos, de B. Lopes.



E, a rir, levamos entre ditirambos,

Eu, no açafate, as provisões do lanche,

Ela, um beijo a trinar nos lábios flambos!





E as cálix com digitális e de leque com Utreque, empregada em Horas, de Eugênio de Castro:



Oh os seus olhos! Suas unhas de amêndoa! E em cálix

O seu colo! E os seus dedos de digitális! –



Vai com suas aias, leva fino leque

Cauda de veludo pálido, de Utreque.



4 – por vezes, o poeta procura a raridade não só no campo fonético, mas também no campo morfológico. Do mesmo Eugênio de Castro são estes versos, em que rima um substantivo com uma forma verbo-pronominal:



eis que diz uma: - meus chapins descalçá-mos,

unge meus pés brancos com cheirosos bálsamos.



......................................................................................................



Não faltam exemplos de rima em Horácio, Virgílio e outros poetas do período clássico, mas é nos cantos de textura popular, como o carmen, que vamos encontrá-los com maior frequência, o que nos leva a considerar tal homofonia de sons finais um dos seus elementos característicos.

O fato explica-se pelas necessidades do canto e, principalmente, pelo progressivo predomínio do acento de intensidade.

Numa versificação baseada na quantidade silábica e no acento de altura, como era a latina no período clássico, a rima teria forçosamente o caráter de puro adorno acidental – recurso lúdico ou de harmonia imitativa, quando não uma negligência. Nada, lembra j.m. meunier, poderia ser mais contrário ao princípio da métrica erudita do que volver, continuamente, às mesmas terminações. Obrigando a fixar a atenção em certas sílabas em detrimento do conjunto, essas rimas perturbavam a harmonia resultante da sucessão regular e do agrupamento variado das longas e das breves, sobre as quais insidia, ou o tempo forte métrico, ou o acento de altura. Nesta organização rítmica flexível e delicada, elas apareciam como notas discordantes e a tonalidade vulgar.

Já numa versificação puramente silábica, o rítmo é o simples efeito da alternância de sílabas fortes e fracas, ou seja impressionadas ou não pelo acento intensivo. A igualdade de som ou sons finais dos versos surge então como uma tosca forma de marcar-lhes o témino. Gaston Paris chega a afirmar, com certo exagero, que uma versificação simplesmente silábica não passa de um corpo sem alma; é necessariamente em tudo material, e só pode obter efeitos pelo meio brutal da rima”.

A partir do século IV da nossa era, a rima começa a ser empregada de forma sistemática. Aparece então, na peça que finaliza as Instructiones de Comodiano e fixa-se, depois, nos hinos da liturgia cristã. Com o florescimento da poesia trovadoresca, nos séculos XII e XIII, ela assume uma importância capital e é explorada até os limites de seu poder expressivo. Basta para comprová-lo o fato de Las Leys d’Amors, tratado de poética de século XIV, enumerar 43 espécies de rimas utilizadas pelos trovadores occitânicos.

até quinta, dia 12 ou a qq momento poraqui